sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

...final de mais um ano da vida




...no final de mais um ano da minha vida, olho para trás e penso em como o ano que está prestes a terminar começou...

Como sempre, visitei os meus familiares com aquela necessidade de lhes transmitir como são importantes na minha vida... Todos estão sempre no meu coração e o pensamento viaja para eles ao longo do dia... pais, irmãs, irmão, cunhados, sobrinhos...

Não refiro os meus filhos, a minha família, da qual não me consigo dissociar porque eles são eu e eu eles...

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Quero também lembrar os que já partiram porque eles andam sempre comigo numa alegria na vida toldada pela nostalgia e os seus risos acompanham-me...não consigo sentir de outra forma. Fica a saudade, os sorrisos, os olhares, a bondade que todos encerravam, o sofrimento partilhado... as recordações de momentos tão felizes e outros tão tristes mas todos momentos da vida. Sempre aceitei a partida deles porque sabia da sua inevitabilidade. Por vezes são duros os caminhos que temos de percorrer mas, o sofrimento torna-nos mais humanos e cada dia da vida passa a ser vivido, e sentido, de outra forma e é recebido como uma benção...




Para mim não há dias feios. Todos eles são lindos... com sol ou sem sol, com frio ou quentes, com vento ou calmos, com chuva ou neve... Toda a tristeza desaparece quando sentimos a força da vida e a beleza que a natureza encerra.

Aos meus amigos, aqueles que estão sempre, mesmo sem estarem ou estando, o meu agradecimento por me aquecerem o coração. Por me acarinharem nas minhas falhas, nos meus insucessos ou sucessos... por não "repararem" quando me esqueço de os referir, por não me lembrar dos seus aniversários, por não comparecer ao cafézinho marcado com antecedência mas que naquela hora o meu "estar" será mais desastroso do que o "não estar"... Por partilharmos alegrias e tristezas... é tão bom ter-vos na minha vida.


Para o ano cá estaremos... familiares, amigos, conhecidos, desconhecidos que se tornarão conhecidos...

A vida é um ciclo que só termina quando pararmos de respirar ou quando deixarmos de ter um sorriso para oferecer...

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Triste o que não tem um sorriso para dar, um conforto a transmitir, um perdão no coração...
Triste o que olha só para si julgando os outros como se a vida fosse feita de medidas perfeitas e infalíveis...
Triste o que acha que tem o direito de andar triste quando há tanto sofrimento autêntico no mundo...



... o AMOR é o combustível da VIDA... sem ele tudo se torna árido e infértil...



Um ano bom para todos nós...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Moça Tecelã, de Marina Colasanti



A Moça Tecelã




"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da
luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a cor de leite que entremeava o
tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de es
curidão, dormia tranquila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.



Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava
justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.




E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cómodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!


Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."

FIM


Para a minha amiga Márcia o meu obrigada do coração, por me ter recomendado este Conto.

Lindo, amiga...

Que o girassol ilumine os nossos caminhos...






Marina Colasanti (1938), nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crónicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão.

Entre outros, escreveu : E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher, Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças: Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento.

Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. Casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.







Viagem


Aparelhei o barco da ilusão


E reforcei a fé de marinheiro.


Era longe o meu sonho, e traiçoeiro


O mar...


(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos.)

Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida.

Desmedida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura...

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.


(Miguel Torga,1962)