quarta-feira, 30 de outubro de 2013

IDEIA E FORMA - Exposição de peças únicas de Design - Tó Martins e Nuno Vasa

 

IDEIA E FORMA

Exposição de peças únicas de Design 

 Tó Martins e Nuno Vasa

Na Sala da Nora - Cine Teatro de Castelo Branco

12 de outubro a 1 de dezembro













Interessantes soluções inovadoras...

A visitar até 1 de dezembro


As  fotos aqui apresentadas  foram recolhidas por mim na visita que efetuei na passada semana... 
Obrigada pela oportunidade de mergulhar o olhar fora da vida quotidiana o que se traduz num enriquecimento permanente...


sábado, 12 de outubro de 2013

Eu, Mãe e Filha



A Vida;;;

 Uma estrada sem fim a percorrer:!!:


Linhas retas, curvas e contracurvas, cruzamentos e rotundas...

 
Solavancos e calmaria...


Já passaram vinte e oito anos desde que sou Mãe!!! Palavra linda: Mãe... Parece um afago, uma aragem suave que nos acaricia a vida...Um murmúrio embebido em mel... Tal como a PaLaVrA Amor, que parece um sopro que deixa o coração e veste de doirado, de azul, de vermelho, de verde, de branco...


E a cada dia continuo a ser a mãe... A MÃE do João e do Bernardo...


Lembro-me de ti, João, tinhas aí uns três anitos, chegaste ao pé de mim com um cotonete em cada orelha, todo feliz... O susto que apanhei devido ao perigo dos cotonetes no entanto, quando olhei para TI sorri interiormente... Só me lembravas um Marciano com aquelas coisas brancas horizontais a sair das tuas orelhas... Expliquei-te o perigo e mudei de sítio os cotonetes mas ainda hoje revejo aquela imagem...

E, mais tarde, quando querias ter um mano... Terias talvez quatro anos, perguntaste como se fazia para teres um mano e eu fiquei sem palavras... Mas depressa  me vieram à ideia as sementes e expliquei-te que era necessário a mãe comer uma sementinha... E tu guardavas todas as sementes das maçãs, que adoravas e adoras comer, e davas-mas e dizias, "Come, mãe, para eu ter um mano"... E o mano chegou e tu o que querias era ir rapidamente vê-lo ao hospital... Insististe, insististe com a Avó Tomázia e lá foram visitar-nos... Ainda estou a ver o teu jeitinho de lhe pegares ao colo... A tua mãozinha na sua cabeça... Tudo emoção;;; Tanta emoção que enche os meus olhos...


A Vida linda da vida... 

E tu, Bernardo, parecias um anjo doirado e rosado e rechonchudo... Com a tua pele alva e as faces gordinhas e cor de rosa e o cabelo loiro e liso...
Lembro-me particularmente de, na época do Natal, terias também uns três anitos, deitares todas as ovelhinhas do Presépio... E eu perguntava-te, "Mas porque as deitas, filho?", e tu respondias todo convencido, "Ó mãe, é de noite e elas têm de dormir!!!" 



"Quem disse que as crianças são o melhor do mundo não estava, certamente, enganado. Para que é que elas servem? (Foi isso que perguntou?...) Uma criança serve para redescobrirmos o encantamento, a transparência, o riso até às lágrimas e as histórias que se acotovelam na nossa língua. Serve para brincarmos e corrermos pela casa. Serve para termos uma desculpa, sempre que chegamos muito atrasados a um sítio que não nos interessa. Serve para descobrir que há nuvens que se parecem com a tromba de um elefante. Serve para chorarmos quando revemos o Bambi. Serve para adormecermos abraçados a ela, no sofá. E serve para descobrir que o melhor do mundo é sermos (só nós e mais ninguém!) o melhor do seu mundo. Que ao pé de tudo isso haja um dia (ou outro) em que o karma parece apostado em nos contrariar, o que é interessa? Afinal, há sempre um telemóvel à espera de uma mensagem que, podendo não começar com “Querido”, acaba sempre, no mínimo, com: “Já te disse como gosto de ti?” São tão pouco entediantes os dias de uma mãe! E ser-se pai é sempre tão criativo e tão imprevisível!... Afinal, no fi m de um dia normal de semana, depois de deitarmos um fi lho (e de o vermos a voltar, de novo, a ser anjo) sentamo-nos, suspiramos como quem, finalmente, está pronto para descansar e, sem percebermos porquê, enquanto lutamos contra o sono, só nos vem à memória um refrão mais ou menos gasto: “Querida mãe, querido pai, então que tal?...”. (Suspire! Outra vez, ainda, por favor!) Quem disse que o dia da criança era, unicamente, uma vez em cada ano?"  (Eduardo Sá)

 



E tantas outras recordações me povoam de cada dia vivido Convosco... Connosco... Comigo... 



"Todas as crianças olham as pessoas nos olhos porque sabem que, partindo deles, se chega, num instantinho, ao coração. Se o coração das crianças fosse uma casa, teria uma porta colorida. E janelas, de cortinados aos folhos e com sardinheiras debruçadas. Seja como for, o coração das crianças parece uma longa gare, na véspera duma festa. Atravessam-no corrupios de sentimentos que, logo que desaguam, prontamente abalam, de seguida. Visto de lá, o mundo não é bem um lugar onde todos co-habitam, mas um sítio buliçoso, onde se fala e se convive. Onde se trocam abraços. Onde se esboça um ou outro adeus, contrariado. E as lágrimas crepitam, aqui e acolá. E onde, ainda, na hora do regresso, depois de se voar (porque as pessoas, quando se entusiasmam, voam sempre um bocadinho) não faltará uma janela aberta à sua espera. Para voltarem.
Eu sei que voar é uma forma quase enfadonha de falar do que somos capazes quando escorregamos do olhar para o coração. Mas fiquemo-nos por ele. Porque é que as pessoas, logo que crescem, deixam de voar? Eu acho que as pessoas, quando crescem, se tornam um bocadinho sem-abrigo. Porque lhes falta uma janela – entreaberta, que seja – à sua espera. Deixam de acreditar em fadas e em bruxas, mesmo sabendo que elas moram por aí, fora das histórias. E, se se fiam no Pai Natal, é com vergonha. Acham que o coração se torna um órgão cor-de-rosa, esconso, com quatro cavidades. Sem janelas, nem mansardas nem guaritas. A mim, parece-me que as pessoas, quando crescem -, sem saberem porquê - só brincam às escondidas. Não choram no cinema. Deixam de saber como se ri até às lágrimas. E perdem, o jeito - bom e batoteiro - de espreitar as conclusões antes de folhearem qualquer história. Se não se perdem nas histórias, as pessoas desistem de voar. Deixam de ter várias vidas. E, em todas aquelas onde, teimosamente, ainda se barricam, morrem para a vida eterna. Muito, muito antes, do seu entendimento lhes cochichar que já morreram. Parece-me que, quando crescem, as pessoas só voam quando sonham. E isso não é bem voar; é mais dormir. Deixam de saber como é que, partindo dos olhos, se chega, num instantinho, ao coração. Tornam-se amigas do silêncio. Passam a viver resgatando memórias. E, quando é assim, a esperança (que as memórias constroem, peça-a-peça) fica inquinada de saudade. E desperdiçam as outras vidas (para além da sua) que, sempre que estamos disponíveis para voar, não deixam de se pespegar, por perrice, ao pé de nós.
Na verdade, as pessoas, quando crescem, confiam pouco umas nas outras. Não falam dos medos nem das iras. Não falam das mágoas nem do «logo se vê» com que dizem «não» devagarinho. Não falam dos seus encantamentos. Nem das vezes em que se sentem patetas (e como isso, quando acontece aos solavancos, sabe a leite de creme queimado na hora). Não falam dos sonhos de que desistiram como se fossem eles, de birrentos, a encurralá-las nos seus gestos. E não falam das poucas vezes em que não cabem em si. Nem de como, sem darem por isso, não são nem audaciosas nem tenazes. As pessoas, quando crescem, dão-se pouco umas às outras. Se as sentimos com o coração desnorteado no seu peito, sossegando-nos para elas, dizem-nos: «não é nada!». Sempre que choram por muitas razões ao mesmo tempo, para simplificar, choram «por nada». E quando se passeiam pelo desejo, de indecisas, falam como se lhes apetecesse… nada. Muitas vezes, as pessoas, quando crescem, não mentem nem falam verdade. Ocultam-na, que é assim uma forma de transformar o silêncio na maior de todas as mentiras.
Suponho que grande parte das pessoas, quando cresce, se considera apenas suportável. E, muito pior, imagino que vivam essa singularidade como se ela fosse um predicado que lhes mereça algum carinho. Suportável – imagino eu– quer dizer que as pessoas se sentem medianamente aceitáveis e que, por isso, ocupam um espaço pequenino nas suas relações. Parece-me que não é muito diferente de se sentirem desajeitadas para voar. Às vezes, parece–me que sofrem duma epidemia complicada a que elas chamam «vida real», que faz com que a beleza que pulula à volta delas lhes pareça misteriosa e insondável. E que é por ela que imaginam que o mundo vai daqueles que se suportam aos outros, que são insuportáveis. Ora, quando as pessoas são um bocadinho insuportáveis, eu gosto delas. Estão entre imaginar que se voa e aprender a voar. Entre não olhar nos olhos e acreditar que, pela mão de alguém, o coração terá janelas. Digamos que não tem nem acrobatas nem gaivotas. Não me interessa não ter um nome para lhes dar. O importante, de verdade, é descobrir que o coração das pessoas, logo que crescem, deixa de voar. E que elas precisam de se perder nas histórias e ter várias vidas para que ele volte a ter uma porta colorida. E janelas, de cortinados aos folhos e com sardinheiras debruçadas." (Eduardo Sá)


A Vida linda da vida... Linda!!!






 

A Mulher

Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!

Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

(Florbela Espanca)


E a cada dia continuo a ser Filha... Filha da Tomázia e do Luís...

  
 E tantas saudades que povoam o meu coração...


"Pai e filho", de José Luís Peixoto

Pai e filho

Sou o teu pai. Quando te seguro ao colo, entro no teu olhar, passo-te os dedos pelas faces e sinto que também eu tenho duas semanas porque uma parte de mim nasceu contigo há duas semanas. Agora, enquanto dormes, escrevo-te e imagino que, num instante longe deste instante, chegará um dia em que tu serás grande e segurarás uma folha escrita com estas palavras. Estas palavras são uma corda que une este momento presente e passado a esse momento futuro e presente. Daqui, desta ponta da corda, se der um pequeno puxão nas palavras, tu irás senti-lo aí. Se eu disser verdades, tens duas semanas, és pequenino, eu e a tua mãe amamos-te, tenho a certeza que irás sentir estas verdades aí. No entanto, hoje, aqui, eu não posso saber a maneira como irás sentir estas verdades, estes pequenos puxões, porque eu não sei tudo aquilo que irá acontecer entre este momento e o momento em que serás grande e segurarás uma folha escrita com estas palavras. Seguro numa ponta da corda, mas não sei o seu comprimento, a sua forma ou a sua resistência. Ainda assim, sei, imagino, que estás aí nessa ponta das palavras e quase que tenho vergonha de falar contigo. É difícil escolher palavras para falar com essa pessoa em que te tornaste. Ainda não conheço esse rosto que lê cada palavra deste meu embaraço. Além disso, tenho medo que estas palavras envelheçam mal ou que eu próprio envelheça mal. Talvez encontres aqui adjectivos que deixem de se usar. Talvez comeces a ler estas palavras e talvez, na tua ideia, eu seja alguma coisa que deixou de se usar. Irás olhar para aquilo em que me tornarei e tentarás entender aquilo que quis dizer-te hoje pelos significados que, nessa idade, tiver dado às palavras. Filho, eu tenho trinta anos e sou o teu pai. Tu tens duas semanas, és pequenino, és querido, eu e a tua mãe amamos-te. Quando percebemos que estás feliz, ficamos felizes. Quando choras, ficamos inquietos e não paramos, fazemos tudo, fazemos tudo até ficares feliz de novo. Filho, eu tenho trinta anos, mas sinto que também tenho duas semanas porque uma parte de mim nasceu contigo há duas semanas. Estas são as palavras que quero dizer-te. Os seus significados são simples e não tenho medo de dizer que são puros porque são puros mesmo. No dia em que leres estas palavras, saberás muitas coisas. Eu também já soube muitas coisas. Ser pai não é apenas saber, ser pai é compreender. Por isso, espero que possas reler estas palavras num dia em que sejas pai também. Eu, que sou o teu pai, tive um pai e tive um avô. Tão bem como eu sei que o meu pai era uma pessoa, quando fores pai, saberás que eu, aquele que hoje te escreve e aquele que há duas semanas começou a viver paralelo a ti, sou uma pessoa. De mim, espera amor e espera uma pessoa. Como as pessoas, às vezes, engano-me, não sei respostas, tenho medo, tenho frio, minto, faço coisas feias, desisto, escondo-me e fujo. Eu compreendo que tu irás enganar-te muitas vezes, não saberás respostas, terás medo, terás frio, mentirás, farás coisas feias, desistirás, esconder-te-ás e, quando todos te procurarem, terás fugido. Eu compreendo-te. Segurei-te ao colo, entrei no teu olhar. Foi há menos de uma hora. Passei-te os dedos pelas faces, tentando imaginar a forma como o teu rosto vai crescer. Estas palavras serão o espelho do teu rosto. O teu rosto ficará parado sobre elas. Gostava que soubesses que, hoje, quis tanto ver esse teu rosto que lê. Se puderes, passa agora os dedos pelas tuas faces. Talvez no dia em que leres estas linhas tenhamos deixado crescer entre nós o pudor de nos tocarmos com afecto simples e puro. Pai e filho. Por isso, passa os dedos pelas faces para sentires aquilo que sentiste hoje, duas semanas de vida, pequenino e amado. Ou então, chama-me para junto de ti. Na outra ponta destas palavras, serei outro. Terá passado tempo que, agora, não posso imaginar. Mas, nesse dia, quando chegar a estas palavras que me preparo para deixar agora, assim que olhar para elas, lembrar-me-ei daquilo que é estar a escrevê-las, ter trinta anos e estar a escrever enquanto tu, com duas semanas, estás a dormir. Será como se eu, hoje, fosse também filho desse eu que irá ler estas palavras. O rosto que tenho hoje estará dentro desse rosto que terei da mesma maneira que o teu rosto de criança estará também naquele de quando leres estas palavras. Filho, eu tenho trinta anos e sou o teu pai. Tu tens duas semanas, és pequenino, és querido, eu e a tua mãe amamos-te. Quando percebemos que estás feliz, ficamos felizes. Quando choras, ficamos inquietos e não paramos, fazemos tudo, fazemos tudo até ficares feliz de novo. Filho, eu tenho trinta anos, mas sinto que também tenho duas semanas porque uma parte de mim nasceu contigo há duas semanas. Estas são as palavras que quero dizer-te. Os seus significados são simples e não tenho medo de dizer que são puros porque são puros mesmo. Chama-me para junto de ti. Mostra-me estas palavras que escrevi hoje e pede-me para te passar os dedos pelas faces com o mesmo carinho e com a mesma ternura com que hoje toquei os teus contornos de menino. Tenho a certeza que não terei esquecido. Por mais que aconteça entre hoje e esse dia, por mais mortes e terramotos, tenho a certeza que não terei esquecido. E obriga-me a jurar que nunca deixaremos crescer entre nós um pudor que impeça de nos abraçarmos, de nos beijarmos, de passarmos os dedos pelas faces um do outro. Pai e filho. Eu sou o teu pai. Tu és o meu filho.






eu levo o seu coração comigo
e. e. cummings

eu levo o seu coração comigo (eu o levo no
meu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar
que eu vá, meu bem, e o que que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)

       tenho medo
que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não quero
nenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
e é você que é o que quer que seja o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que um sol vai sempre cantar

aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes

eu levo o seu coração (eu o levo no meu coração)